Blog amigos da rainha

domingo, 28 de setembro de 2008

Música e arte que ultrapassam barreiras

Diego Molina

A assessora de imprensa avisou: são 15 minutos de entrevista. O bate-papo acabou por se estender por quase uma hora. Mesmo por telefone, a simpatia de Daniela Mercury e sua dedicação ao trabalho - “minha arte”, como ela diz - são inegáveis. Atarefada entre a pré-produção de seu próximo álbum, os shows em diferentes formatos que ela apresenta ao longo de todo o ano e a preparação para o Carnaval de Salvador, ela aceitou o convite para cantar com os Paralamas do Sucesso no “Telefônica Trio Tons”, show que será realizado no Recinto Mello Moraes, no próximo sábado, com entrada gratuita. “Já conversei com (João) Barone, mas ainda não decidimos o que vamos tocar. Conheço os meninos há anos”, diz Daniela, com a intimidade de quem já cantou dezenas de músicas dos Paralamas. “Vou cantar ‘Só Pra Te Mostrar’, do Herbert (Vianna), que eu gravei. Eu adoro ‘Lanterna dos Afogados’, a gente deve fazer no final. Quero cantar músicas animadas. Estamos discutindo o que tem mais a cara dos Paralamas no meu repertório, de repente ‘Nobre Vagabundo’ ou ‘Mutante’”, adianta a cantora.

Daniela, atualmente, realiza a pré-produção de seu próximo álbum, que deve ser lançado no início de 2009. Em meio aos shows e viagens, ela diz ter composto mais de 30 canções - “muito belas” - e que pretende fazer desse um disco bastante autoral. “Continuo extremamente eclética. Tem arranjos de várias influências, um pouco de pop rock, eletrônico e muito percussivo”, conta. Ela começa a falar sobre uma faixa, “Dona Desse Lugar”, escrita com Marcelo Quintanilha, e mostra-se emocionada e empolgada com sua direção. Em uma viagem ao Mato Grosso, com o projeto social Caravana da Música (que leva professores de música e dança a comunidades menos desenvolvidas), Daniela ouviu uma índia terena de 111 anos cantar especialmente para o grupo.“A partir disso, busquei uma música que homenageasse os índios, acho que é importante fazer uma canção chamando atenção para isso - muito mais para celebrar a cultura indígena. Fala-se bastante de índios, mas a população pouco tem contato com a cultura, a beleza, a história. Só sabe dos problemas de demarcações de terra. É um problema seríssimo, uma questão nacional, mas com pouca proximidade da população”, analisa. Em seu método de trabalho, as pesquisas de novas sonoridades sempre ganham destaque, assim como a fusão de novos ritmos.

Daniela se diz “experimentando, pré-produzindo e compondo” há quase um ano. “Como sou uma artista dona de minha própria obra, estou construindo o disco mais livremente - não falando artisticamente, porque isso eu sempre fiz, mas em termos de tempo para lançar. Até porque o formato de disco hoje em dia não faz muita diferença”, assume a artista. No ano passado, ela lançou a faixa “Preta”, com Seu Jorge, que estará no disco novo. Outras duas músicas devem chegar aos fãs antes do lançamento do álbum, uma especialmente para o Carnaval. De bom humor, ela revela que decidiu reformar seu estúdio. Se acontece com você, também acontece com Daniela: a reforma, obviamente, atrasou. “O equipamento está todo aqui dentro da minha casa. Estou gravando coisas no meu quarto, já gravei cordas, madeiras, saxofone. Descobrimos que ele tem uma acústica ótima para gravar”, conta, e continua. “Ontem (quarta-feira), coloquei a voz guia de uma música dentro do meu closet, que era o lugar mais abafado para gravar. Vai ser um disco totalmente íntimo, né? (risos) Está sendo bem divertido.”

Dona de sua obra e do selo “Páginas do Mar”, a cantora comenta que vai aguardar propostas das gravadoras (EMI e Sony & BMG) com quem tem boas relações para decidir o lançamento do novo disco. “Estão sabendo do projeto e cada uma fica livre para me propor e discutir quem tem mais desejo de lançar o trabalho. Graças a Deus, tenho sido muito desejada (risos)!”A decisão do lançamento também será pensada com as empresas estrangeiras, já que a carreira internacional de Daniela Mercury é forte há mais de 14 anos.

Nas palavras de Camille Paglia

Em sua participação na série “Fronteiras do Pensamento” em Salvador, em maio deste ano, a intelectual Camille Paglia recebeu, como presente, os CDs e DVDs de Daniela Mercury. Semanas depois, ela publicou um extenso artigo em que falava, inicialmente, de como Madonna (e seu mais novo trabalho, “Hard Candy”) perdeu-se como artista vinda da negra Detroit para, em seguida, relatar seu primeiro contato com a arte da artista baiana. “Foi literalmente eletrizante: eu me senti como se tivesse sido atingida por um raio, causando uma misteriosa reorganização das minhas células cerebrais. Meu tédio e desilusão com a cultura popular, que se intensificaram nos últimos 15 anos, pareciam ter desaparecido. Desde então, eu tenho explorado entusiasmadamente a história do Brasil e a carreira de Mercury”, diz a pensadora no artigo publicado no site Salom (www.salom.com) e reproduzido na página de Daniela (www.danielamercury.art.br), traduzido.

“Foi uma surpresa. Conheço o trabalho de Camille desde o começo dos anos 90, sou admiradora de seu trabalho sobre o show business, a cultura e a arte na sociedade americano. Ela fez artigos sobre Madonna, Elizabeth Taylor, o feminismo. Foi um troféu dos mais importantes que já recebi”, comenta Daniela.Para ela, o mais gratificante foi ler que a norte-americana pôde compreender sua arte na música, na dança, no trabalho cênico e nas raízes de tudo, na cidade de Salvador. “É maravilhoso para um artista ser compreendido. A mágica da arte se fez. Sou uma artista que tenta usar linguagens de dança e música e criar um espetáculo de identidade brasileira, e ela viu essa identidade mantida, uma coisa que é meu objetivo como artista da música popular brasileira, da música do mundo”, comenta. “Me senti muito fortalecida”, completa.

Fonte: Jornal da Cidade de Bauru

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