Parece que foi ontem...

Por Edwin Carvalho

Eu era menino quando vi na televisão uma moça serelepe e do sorriso largo, cantando e dançando lindamente nas ruas do Pelourinho numa propaganda de uma grande rede de supermercados de Salvador. O ano era 1990 e a tal moça atendia pelo nome de Daniela Mercury. Uma jovem branca, de apenas 25 anos, que dançava e cantava feito negra, fez nascer naquela criança de nove anos um sentimento que ele até então desconhecia: o encantamento.

A moça ganhou a Bahia. Mas a Bahia ficou pequena demais para o seu sonho de fazer o mundo sambar. Primeiro, ela fez sambar o Masp, a Praça da Apoteose, as ruas do Brasil, do Oaipoque ao Chuí. Conquistar fãs no mundo inteiro não foi difícil. A jovem cresceu artisticamente, rompeu barreiras e preconceitos. Entrou para o seleto time das grandes intérpretes brasileiras, tornou-se embaixadora do Unicef, dividiu o palco com alguns dos maiores nomes da música mundial.

A bailarina se tornou cantora. Em pouco tempo virou rainha, da alegria, do carnaval. E ganhou cada vez mais súditos. Bastaria isso para ser eternizada. Mas queria mais. Queria transitar por vários gêneros musicais. E fez isso com maestria. Com a cara e a coragem, levou música eletrônica e piano de caldas para o alto do trio elétrico. Pregou o amor sem preconceitos, defendeu as crianças, os oprimidos, os homossexuais, o uso da camisinha, os blocos afros de Salvador. Levou o candomblé e o negro para o centro da ribalta. Para Daniela, o negro é protagonista e as religiões podem conviver harmonicamente, afinal os deuses podem ser muitos, mas o amor é um só.

A moça virou mulher, mãe, avó, mas sem perder a alegria e a vitalidade de menina. O menino cresceu e, hoje, quase com 29 anos de idade, descobriu que aquele tal encantamento nada mais era que amor. Um amor puro, fraternal, inexplicável. Afinal, amor não se explica nem tampouco se justifica, ele simplesmente é.

Que esta menina continue fazendo o mundo sambar. Que continue enchendo de alegria os nossos corações. Que continue trazendo vida, positividade e esperança para todos nós ... por muitos e muitos anos... agora, amanhã e depois e depois de amanhã...

PARABÉNS, RAINHA!