Daniela participa de CD em homenagem à Carmem Miranda

Carmem Miranda completaria cem anos em 2009, se não tivesse morrido prematuramente, aos 46 anos, vítima de um coração estressado e de circunstâncias e fatos que fartamente já foram informados em importantes biografias sobre sua trajetória.

Mas o que Carmem deixou para nossa história foi, antes de tudo, sua anima brasileira que atravessa décadas e todos os limites geográficos-culturais, não somente como o estereótipo da figura exótica que atraíra os interesses norte-americanos para a política da boa vizinhança, mas principalmente como a mulher inventiva que, trinta anos antes da bossa-nova, levara o nome do Brasil para o exterior.

Num curto período de vida, Carmem fez muito. Revelou compositores, gravou centenas de canções, inventou moda e, principalmente, incorporou ao “canto” novas modalidades expressivas, nas quais o texto e a melodia encontravam, em sua voz pequena e afinada, a mais perfeita confluência para aquilo que seria a constituição ideal da “canção”. Mário Reis também fizera o mesmo, e com Carmem dividira inúmeros duetos, como os que podemos ouvir na bela antologia organizada pelo criativo e incansável roteirista e produtor Thiago Marques Luiz.

Lançado pela Sony Music, 100 anos Carmen Miranda - Duetos e Outras Carmens apresenta a própria artistas em diálogos musicais históricos com Mário Reis (Alô Alô, Chegou a Hora da Fogueira, entre outras pérolas), Francisco Alves (na belíssima e desconhecida Retiro da Saudade, de Noel Rosa), Lamartine Babo, Castro Barbosa, Sílvio Caldas, entre outros bambas que construíram nosso inventário musical das décadas de 30 e 40, grande parte do acerco RCA Victor (segundo o produtor, primeira fase discográfica da cantora).

Álbum duplo, o segundo CD, as “outras Carmens”, fruto da pesquisa de Thiago Marques Luis sobre as re-interpretações do legado por artistas contemporâneos - e aí acontece a grande sacada do produtor, ao permitir que o ouvinte estabeleça os elos entre a irretocável obra da artista por meio da possibilidade de se ouvir canções re-significadas por artistas como Elza Soares e Maria Alcina (em gravações inéditas para o projeto, com participação do moderno DJ Zé Pedro), Olívia Byington ao piano de Assis Brasil, os tropicalistas Gal e Caetano (desde sempre atentos às outras faces de Carmem), Chico Buarque e Bethânia, Baby Consuelo, João Bosco e Daniela Mercury, Rita Lee e Elba Ramalho em gravações inusitadas, Adriana Calcanhoto (em faixa especialmente extraída da trilha de uma série de TV - E o Mundo não se acabou em diferencial arranjo), além de Evinha e Marília Barbosa (respectivamente em Na baixa do Sapateiro e Eu Dei), artistas que fazem falta em nosso cenário musical.

Fonte: Sovaco de Cobra / UOL