Blog amigos da rainha

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Cantores baianos deixam a competição de lado

Ivete Sangalo já está com os novos hits de Daniela Mercury na ponta da língua. Cláudia Leitte acaba de decorar as canções das amigas e também do Ara Ketu. Daniela, por sua vez, prepara repertório baseado em outras intérpretes baianas e também selecionou sucessos da MPB dos anos 1960, 70 e 80, que trará em versão eletrônica no carnaval. Carlinhos Brown mandou a canção Cadê Dalila para Ivete gravar e, pouco depois, virou uma das mais tocadas nas rádios brasileiras. Os grupos Chiclete com Banana, Jammil e uma noites e Banda Eva entraram na mesma onda com um único objetivo: falar bem do trabalho alheio. A promoção do trabalho dos colegas virou marca registrada da folia de Salvador. “O principal é que nossas canções toquem de forma igual. Neste movimento ninguém caminha sozinho. O que não falta é boa música. Trabalhamos numa espécie de terapia de grupo e isso nos fortalece e nos une. Nosso som vai para o mundo por conta disso”, explica Ivete Sangalo, a mais bem-sucedida da turma.

A união entre os artistas transformou a festa de Salvador numa indústria de cifras milionárias ao longo dos anos. Na disputa pelo lugar no mercado, os cantores baianos fazem de tudo para reinventar-se a cada estação, na tentativa de manter-se na mídia. A metamorfose envolve desde o visual, passando pelo repertório, até chegar à performance na frente dos trios e nas aparições na grande mídia. Daniela Mercury é quem se sai melhor nesse processo de mutação. Desde que apareceu nacionalmente, há 20 anos, com a música O canto da cidade, ela fez de tudo um pouco na carreira. Foi rainha do axé, flertou com a MPB, misturou influências árabes com a batida negra dos tambores e, desde 2000, iniciou uma fase mesclando música eletrônica a todas as suas influências. “Ser considerada rainha me dá uma responsabilidade enorme. Amo o que faço, me sinto provocando a turma para ir em frente e crescermos como artistas. Quero sempre inovar.” No próximo carnaval não será diferente.

Quando pela primeira vez levou para o circuito Barra-Ondina o trio eletrônico, em 2000, Daniela Mercury recebeu críticas de todas as direções. Houve quem achasse estranho, uma afronta às raízes africanas da festa, e até quem considerasse um verdadeiro fracasso. Hoje em dia, a cantora contabiliza não só a boa repercussão da proposta – que levou para folia DJs respeitados como Mau Mau, Anderson Noise, Memê, Zé Pedro e nomes da cena underground como o argentino Ramiro Musoto –, como promete uma celebração de sons. “Vou misturar minha banda eletrônica com os ogãs de candomblé”, anuncia. Pode? A artista não só defende a proposta como aponta coincidências entre as sonoridades. “A música eletrônica é repetitiva, assim como os sons do candomblé. São cíclicas, se repetem. No fundo todas são hipnóticas. Estou pedindo licença à minha mãe-de-santo para a fusão.” A proposta começa pela sua próxima música de trabalho: Oyá por nóis, composta em parceria com a amiga Margareth Menezes, que trata do sincretismo religioso. Ela é uma prévia do repertório do CD Canibália, que será lançado em abril.

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Mesmo mantendo posição de destaque no mercado fonográfico e na preferência popular, o ritmo baiano passou por vários desgastes em sua imagem quando os artistas apostaram em canções de letras chulas e de duplo sentido. É coisa do passado. “O axé de hoje é encarregado de levar alegria e diversão ao mundo. Também somos engajados. No Ara Ketu, por exemplo, mostramos ainda do que o negro é capaz”, exemplifica Larissa Luz. O projeto não contempla rixas entre os grupos. “Já houve atritos no passado, há mais de 20 anos, quando havia competições entre os blocos e um colocava o som mais alto do que o outro para atrapalhar. Depois que passaram a ser comandados por artistas, e eles viraram ícones da festa, a situação mudou. Hoje, todo mundo está estabilizado, tem sua identidade e ritmo. Cada um tem a maneira de agir e vive num lado da cidade, tomando conta do próprio público”, conta Daniela Mercury. Todos se beneficiam da estrutura, não assumem as disputas, mas, nos bastidores, cada um tenta se superar.

Fonte: Portal Uai (editado)

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