Blog amigos da rainha

domingo, 7 de dezembro de 2008

Resenha de Carnatal

Por Edwin Carvalho

Há muito tempo que eu não curtia o Carnatal como em 2008. Este ano resolvi acompanhar a festa desde a pipoca, passando por camarote e por alguns dos principais blocos. E posso dizer que este foi o Carnatal das cantoras. Aliás, os cantores que me desculpem, mas as mulheres comandam com maestria os trios elétricos.

Cláudia Leitte, embora passe longe de minhas preferências, foi ovacionada como a rainha do Carnatal. E justiça seja feita, ela comandou o bloco Caju com uma vitalidade fora do comum para uma gestante no oitavo mês. Estava emocionada e emocionou com uma barriga enorme e uma energia contagiante. A turma do bloco, formada quase que em sua totalidade por adolescentes, adorou. Se no resto do país Ivete é a grande musa, em Natal quem manda é Cláudia Leitte, que faturou vários prêmios de melhor cantora e até já recebeu o título de cidadã natalense.

E por falar em Ivete, ela estava linda e causou euforia entre os foliões do Cerveja e Coco, das arquibancadas e camarotes. Pude sentir de perto a força da artista no trio, sua simpatia natural e seu brilho que é próprio. Sua nova música, Dalila, gruda no ouvido e caminha para ser um dos grandes hits do carnaval de Salvador. O bloco é animado e, no sábado, atrai grande público GLS.

Mas para mim não há Ivete nem Cláudia que se compare a Margareth Menezes em cima do trio. Acompanhei o Cidadão Nota 10 o percurso quase todo dentro do bloco. Que voz e repertório! Esta sim merece o título de rainha do Carnatal na minha opinião. Quem gosta de boa música baiana, de samba reggae de primeira, sabe do que estou falando. É verdade que gente bonita não é o forte do bloco. Mas pra que gente bonita quando se tem Margareth no comando do trio!? Em matéria de animação, o “bloco do povão” (o folião não paga pelo abadá, troca-o por notas e cupons fiscais) é o melhor do Carnatal.

Uma boa surpresa foi Larissa Luz, do Araketu. Sabe comandar o trio como uma veterana e empolgou a multidão do bloco Me Leva. O mais engraçado deste bloco é que ele superlota no carro de apoio, já que a bebida é de graça. A cena, dos inúmeros canecos empunhados e do desespero para pegar o precioso líquido dourado jorrado aos milhares de litros me fez lembrar a cena dos flagelados da África em dia de entrega de donativos.

Outra mulher que arrebenta no Carnatal é a potiguar Lane Cardoso. Ela me faz lembrar Daniela Mercury no trio. Aliás, seu repertório é claramente inspirado na rainha do axé, com canções que vão de Levada Brasileira ao Canto da Cidade. Lane é melhor que muita cantora baiana.

Já os homens... são a cara da mesmice. Sei que os fãs do Asa e do Chiclete vão me crucificar, mas essas bandas pararam no tempo. Tem horas que o Chiclete dá sono. O Asa então... meu Deus! Na falta do que cantar, Durval, a cada cinco minutos, grita que o “Asa arreia, arreia, arreia”, isso há uns trezentos anos! Mas pra quem gosta do famoso “mais do mesmo”, as atrações são um prato cheio. O pior de tudo é que, para muita gente, sair nesses blocos é status, ainda que precise parcelar em dez vezes sem juros no cartão. Eu respeito quem gosta, mas não queria de graça. Jammil, Babado Novo, tudo a mesma coisa, repertório pra lá de repetitivo. Mas o povo adora! Já Ricardo Chaves... que bom que ele ainda tem o Carnatal. Porque fora daqui... Ele é até esforçado, mas... A exceção ficou por conta de Saulo, da Banda Eva, que cantou no chão e fez bonito na avenida.

Dos artistas ausentes, quem mais fez falta foram Daniela e a Timbalada. Não houve sequer um artista que passasse pelo corredor da folia sem tocar Maimbê. E ainda tiveram Trio Metal, Levada Brasileira, Feijão de Corda, Rapunzel e até O Canto da Cidade. Este ano várias foram as tentativas de trazê-la para o Carnatal. Mas as negociações declinaram e a rainha do axé acabou, mais uma vez, não vindo. Sei que Daniela optou por não fazer micaretas, mas acho que isso acaba sendo ruim para renovação de público dela. Tudo bem que ela não faça qualquer carnaval fora de época. Mas o Carnatal é, “apenas”, o maior carnaval fora de época do país e atualmente conta com a cobertura nacional da Band e da Rede TV. Já a Timbalada... como puderam substituí-la pelo Babado Novo!? Foi como trocar uma ferrari novinha por um fusca 76.

Daniela, assim como Ivete, Margareth e Timbalada, possui um repertório diferenciado, ao contrário da maioria das bandas de axé. Incrível como essas bandas conseguem cantar as mesmas músicas no mesmo local todos os dias. Pra quem está no camarote ou nas arquibancadas é uma verdadeira lavagem cerebral. Se fossem escolher o hit do Carnatal, certamente seria aquela chata e batida música do Victor e Leo que eu não sei o nome nem faço a menor questão de saber (“de hoje em diante eu não vou negar, que outra pessoa...”). Ninguém merece!

Carnatal é isso. A gente diz que não está nem aí até o trio bater em nossa porta. Ano que vem tem mais.

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