Blog amigos da rainha

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

"Daniela Mercury não é celebridade!"

O interesse da massa na intimidade dos artistas vem aumentando bastante nos últimos tempos. Aos poucos, o interesse apenas na produção artística ou na intervenção política do artista no espaço público vem sendo substituído pelo interesse somente naquilo que ele come, em saber qual restaurante ele freqüenta, qual a sua marca de roupa favorita e com quem ele anda se deitando.

Claro que esta substituição é estimulada pelas mídias que agora tratam os artistas não mais como artistas, mas, sim, como 'celebridades'. Contudo, ele é também instigado por empresários e executivos que, no afã de lucrar imediatamente, acabam colocando seus artistas nas mídias muito mais nessa condição de 'celebridades'. E, por fim, não podemos nos esquecer que a substituição também é estimulada por aqueles artistas deslumbrados e viciados em se expor, para os quais, não aparecer na tevê ou em revistas de 'celebridades' toda semana é sinônimo de fracasso.

Porém, há artistas que, a despeito da popularidade alcançada e até de algumas concessões à condição de 'celebridades', procuram manter-se longe desse circo e preservar sua intimidade e da sua família. Há artistas que, remando contra uma maré alta e forte de interesse do público em futilidades e na privacidade alheia, priorizam a exposição de seu trabalho na mídia. Daniela Mercury é um desses artistas.

Seu enorme sucesso no Brasil e no exterior esteve e está calcado primeiramente em seu talento: na força de seu canto; em sua voz personalíssima que fez escola na Bahia; em sua musicalidade interessada tanto na tradição quanto na vanguarda; e, claro, no impacto de sua imagem e veia teatral. Daniela Mercury é artista, não é 'celebridade', ainda que, para levar sua arte a seu público, ela precise ceder em alguns momentos às pressões de quem quer explorá-la como 'celebridade'.

Sendo assim, é justo que Daniela se recuse - até mesmo com impaciência e arrogância - a responder à pergunta de uma repórter sobre sua intimidade. Não estive em sua Santa Festa, infelizmente, mas, como as notícias correm rápido, eu soube que, durante a coletiva sobre a festa, ela expulsou uma repórter que lhe perguntou sobre sua orientação sexual, ou seja, perguntou se ela é gay ou bissexual.

Não sei se o fato é verdadeiro, mas, independentemente disso, muita gente já está criticando Daniela Mercury sob o argumento que, como ela beijou Aline Rosa em público, é normal que se queira saber se ela gosta de mulher também. Ora, este argumento é tacanho como é tacanha a vida de quem quer saber com quem você se deita. Será que a repórter expulsa não é capaz de ler o beijo como uma provocação cultural ou uma defesa da liberdade de afetos ou, ainda, como uma tentativa de polemizar em favor dos gays, que são expressivos em seu bloco e séquito? Parece-me que não. Hoje, a nova geração de jornalistas está cedendo muito fácil à mediocridade da imprensa de 'celebridades'.

Muitos dirão que estou defendendo Daniela Mercury porque gosto dela (aliás, esse meu gosto já virou um folclore!). Na verdade, eu gosto do trabalho de Daniela. Eu estive pessoalmente com Daniela algumas vezes (a maioria delas para entrevistá-la). Em todas elas, a rainha me tratou com muito respeito e elegância porque, antes, eu a tratara da mesma forma. Daniela é uma artista corajosa que não foge ao posicionamento político. Coloca sua música em favor do entretenimento, claro, mas também em favor de um mundo melhor para todos. Daniela Mercury é gay porque é alegre. Ela é artista, não 'celebridade'.

Por Jean Wyllys

Fonte: CORREIO

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