Blog amigos da rainha

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Daniela fala sobre show no Ceará para jornal O Povo

O que você preparou para o show da virada aqui em Fortaleza?
Daniela Mercury - Tô levando seis bailarinos. Quatro mulheres e dois homens. Tenho dois shows. Balé mulato, em homenagem ao Brasil, com um cenário todo de chita, onde os bailarinos dançam com bacias. É uma celebração de Brasil. Vou fazer boa parte do Balé mulato e algumas partes do show em homenagem aos 15 anos do Canto da Cidade, onde eu faço uma performance com umas bolas de pilates. Canto músicas como Batuque, Rosa Negra, Você Não Entende Nada, Canto da Cidade, Swing da cor, Nobre Vagabundo, Rapunzel. Quero apresentar um show grandioso, com muita iluminação. É primeira vez com essa formação de cena e música. Também terá músicas nordestinas Balanço do Mar, Feijão de Corda. Vou levar o lado afro e o lado nordestino para o palco. Preparei uma música surpresa para entrar o ano de maneira otimista e doce, falando de amor. Cada canção eu falo do nosso fortalecimento do ser humano. São canções que têm mensagens lindas de ano novo.

OP - Na seqüência, você vai subir ao palco depois de Lulu Santos e Gil. Vocês vão cantar alguma música juntos?

Daniela - Vou fazer o convite para subir com eles. Vou convidar os dois, mas talvez o Gil cante uma com o Lulu e eu com o Gil, devido a seqüência das apresentações. Sou muito amiga dos dois. Já cantei com Gil várias vezes, espero que nos encontremos.

OP - Como é sua relação com o público de Fortaleza?
Daniela - Nós somos uma só nação. Minha carreira foi toda aqui no Nordeste. Tenho uma cumplicidade enorme com esse povo, um fã-clube enorme, pessoas que acompanham meu trabalho, que vão pro carnaval de Salvador. É sempre uma grande festa, de uma cumplicidade única. São corações muito próximos. Temos identidades muito parecidas. Quando eu canto, tudo que me emociona é o afeto. As músicas passam a ser importantes para as pessoas porque elas viram trilha sonora de nossas vidas. Muito do que eu vou cantar nesse show foi trilha do Ceará. Eu sinto como se eu estivesse matando uma saudade muito grande. Quando eu chego no sul, não há o mesmo afeto que o nordestino. A turma toda ouviu Swing da Cor, Batuque antes do disco O Canto da Cidade existir. Isso é maravilhoso. Essa emoção vai dar o tom desse show. Alegria, força e fé pra gente começar o ano cheio de energia positiva.

OP - Há algumas décadas, o axé era sinônimo de muita percussão. Como você vê as transformações ocorridas por esse ritmo ao longo dos anos?
Daniela - O axé virou um gênero brasileiro com muitas variações e fusões. E tem artistas que são mais relacionados às raízes. O axé pra mim nasceu quando as guitarras elétricas se uniram à percussão da Bahia. Foi a união do preto e do branco. O surgimento do samba-reggae também. O samba-reggae é a base principal do meu trabalho. Mesmo com as variações por onde passei, por diferentes ritmos, ele é a minha base. Eu quero abrir a cabeça das pessoas. Eu tô fazendo um documentário agora sobre o axé, para fazer um manifesto de todo esse processo, de todo esse legado que foi criado durante esses anos, algo tão diversificado. Dentro disso tudo têm alguns que não se prendem tanto às raízes. É um pouco de cada um. O Chiclete, o Asa já existiam antes do axé como ele se configurou mesmo. O axé como gênero surge com O Canto da Cidade. Não existia antes. Antes se dizia que era música afro, baiana, o próprio Luiz Caldas era o afoxé, vindo um pouco do Candomblé. Ele começa essa transição da música afro para o trio elétrico. No começo da década de 90, ele se estrutura por causa da influência do samba-reggae, com Faraó, Madagascar e depois com O Canto da Cidade e o Olodum também. Essa mistura da música afro com o trio é que dá origem ao axé.

OP - A partir do seu sexto álbum, Sol da Liberdade, a música eletrônica se torna mais evidente na sua produção. Como aconteceu essa aproximação entre o axé e a música eletrônica no seu trabalho?
Daniela - A música eletrônica é feita para dançar, ela é rítmica. Um gênero aberto a criações, assim como o axé. Por isso que dá para juntar. Eu sou uma miscelânea, desde o começo. Sempre procurei buscar novas tendências. Quem mudou os costumes fui eu. Foi difícil. Existe um festival em Berlim, o Love Parade, que acontece há muitos anos imitando o carnaval de Salvador. São um milhão e meio de pessoas numa rave aberta, atrás de um trio elétrico. Daí eu comecei a pensar nisso, comecei a tentar fazer uma música eletrônica com a base brasileira. Pensei que eles estavam fazendo coisas interessantes, usando as coisas da gente e tentei fazer o inverso. Acho que o eletrônico muda os comportamentos, ele permite qualquer coisa, ele não tem forma. A música eletrônica é mais vazia. Chamei uns produtores que já faziam eletrônico aqui pra tentar inovar. Quando eu vi todo mundo fazendo axé aqui, mais de 30 artistas, eu vi que estava na hora de fazer umas mudanças. Sempre que eu vejo que todo mundo testa fazendo por um lado eu viro à esquerda. Tenho que contribuir com uma reflexão da música brasileira. Precisamos apontar para o futuro. Acho que Caetano sempre se arrisca, sempre se supera, ele tem uma vitalidade artística enorme. Quero, do meu jeito, também manter essa vitalidade.

OP - Você chegou a gravar algumas músicas de outros cantores, de gêneros musicais diferentes do axé. À Primeira Vista, Pensar em você são alguns exemplos, músicas do Chico César. Qual a sua opinião sobre essas releituras musicais dentro do seu trabalho?
Daniela - Eu pego as canções e faço laboratórios até achar algumas coisas que não seja o que está sendo feito. O Chico César, para mim, é um dos maiores compositores brasileiros de todos os tempos. Ele é virtuosíssimo. Já falei pra ele, ele realmente é da família de Jackson do Pandeiro. Tem um texto moderno, poético. Ele é de uma coragem, de uma visão de mundo muito especial. Quando ele diz "Eu sei como pisar no coração de uma mulher..." Lenine é outro de um talento incomum, um intelectual. Eles são artistas de quilate de Chico Science, Carlinhos Brown, Caetano... Tenho uma alegria muito grande em ter revelado o trabalho de Chico (refere-se à música À Primeira Vista, que estourou nas rádios na voz de Daniela). Música para mim é aquela que emociona.

OP - Você conquistou um grande espaço na carreira internacional. O que significa, muitas vezes, representar a música brasileira por aí a fora?
Daniela - É uma honra, uma felicidade muito grande. Ainda que eu não tenha essa capacidade. O Brasil é de uma riqueza muito grande e diversa. É muita responsabilidade. Desde que cheguei em Sampa que eu explico para imprensa os diferentes ritmos que o Brasil tem, tento explicar cada um, a cultura de cada local do País. É como se eu desse uma aula, um passeio pelo Brasil. Eu canto muitos ritmos e principalmente os ritmos nordestinos. Sou muito cuidadosa com isso. Faço meu papel de brasileira. Por onde eu passo, convido todo mundo para vir ao Nordeste. Passei minhas férias de julho em Jericoacoara. Fui com toda minha família. Foram 10 dias maravilhosos. Se Deus existe, ele mora aí (risos).

OP - Como é a experiência de cantar para quem não entende o que você está cantando?
Daniela - Desafiador. Divertidíssimo porque as pessoas, quando elas se deixam levar pela música, não há fronteiras. As pessoas hoje na Alemanha já cantam vários trechos em português, elas se emocionam com as minhas canções. São treze turnês internacionais na Europa, Argentina, Uruguai, Paraguai, México, Turquia, Israel... O diálogo se faz de uma maneira muito forte, muito intensa. O espírito das canções também está na dança. A gente usa a linguagem corporal para falar. A poesia está em tudo isso.

Um comentário:

Anônimo disse...

Primeiramente parabens! pelo blog
Acreditando ser de total interesse desse blog espetacular
quero indicar acreditando ser de muita utilidade para o publico em geral
obrigado
www.zigbr.com