Blog amigos da rainha

quarta-feira, 2 de julho de 2008

"Daniela mostrou que era possível estourar no Brasil fazendo música do Nordeste"

Em 84, o argentino Ramiro Musotto não imaginava o quanto aprenderia com os baianos, com quem sonhava tocar ainda em seu país. Após um ano de estudos em São Paulo, levou para Salvador sua cancha em torno de programações eletrônicas. Logo se tornaria um dos principais responsáveis pelo fenômeno da axé music, a música pop da Bahia, trabalhando como percussionista e produtor de gente como Margareth Menezes, Gerônimo e Daniela Mercury.

Confira trechos da entrevista em que Ramiro fala sobre a importância do trabalho de Daniela Mercury:

Você ajudou a disseminar a axé music, promovendo uma síntese entre a percussão baiana e as novidades eletrônicas que marcaram trabalhos como 'O Canto da Cidade', que está sendo relançado em seus 15 anos. Como foi participar daquele projeto que até hoje continua sendo uma referência no trabalho da Daniela Mercury, aquele show na Apoteose e a gravação?

Eu estava num momento legal, trabalhando com um super sampler, tocava com Margareth na Europa e Estados Unidos direto, tínhamos feito três ou quatro grandes turnês pelo mundo, aí Daniela me chamou e o produtor era o Liminha. Ele usava o mesmo sampler que eu, Akai, ficamos encantados um com o outro. Depois do 'Canto da Cidade', onde eu fiz os arranjos de várias músicas, eu comecei a tocar com Dani e, dois anos, depois me mudei ao Rio onde gravei muito com Liminha...

Claro que pessoalmente essa experiência continua sendo importante para você, mas com o distanciamento de uns 20 anos, depois da massificação da axé music, qual você acredita tenha sido a contribuição da linguagem do samba-reggae, com o samba-duro dos timbales e outras características urbanas, para a música brasileira?

É difícil dizer ainda, mas acho que o lado bom foi que botou a classe média e os sulistas pra sambar. A redescoberta do afro-baiano, a revalorização da cultura regional. De certa forma, tem uma ligação, mesmo que muita gente nem pense nisso, com o mangue beat. Daniela e Chico saíram na mesma época. Quando a gente foi no Recife, todo mundo do Mestre Ambrósio, que ainda não se chamava assim, foi ver o show da Daniela, e ficamos amigos até hoje. Daniela mostrou que era possível estourar no Brasil fazendo música do Nordeste, da Bahia, e não era forró, era pop, era samba-reggae, era percussão na cara. [...] Se você escuta 'O mais belo dos belos', do CD 'O Canto da Cidade', você entenderá. Essa era a música que todos piravam na época...

E hoje, qual o futuro do axé music?

Não faço idéia, não me interessa o futuro da axé music. Me interessa o futuro da música baiana ou da música feita na Bahia. [...] Aqui existe um excesso de axé, e tudo é parecido, não sei distinguir uma banda de outra. São bandas organizadas por empresários e empresas, não por artistas. Refletem a realidade do mercado de consumo "artístico". Arte vazia. Claro que há excecões, como Brown e Daniela, que utilizam elementos e que são formados pela axé music e que são legais.

Ramiro Musotto afirma também, nessa entrevista, que está participando da produção do novo CD de Daniela Mercury.

Fonte: Diário do Nordeste

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