Blog amigos da rainha

sexta-feira, 20 de junho de 2008

O balé junino de Daniela Mercury

Ela tem trocado o dia pela noite. Entre um e outro intervalo nos trabalhos de estúdio, Daniela Mercury respondeu por e-mail às nossas perguntas sobre sua apresentação, amanhã, às 21h, no São João do Pelourinho. E sintetizou o seu atual estado de espírito com uma reflexão: “Vivo na cidade mais africana do Brasil e, um dia, tenho que aprender a ser mais sambista que existencialista”. Disposta a investir cada vez mais na intuição e na espontaneidade, a cantora reorganizou a agenda de suas turnês internacionais e está na Bahia prontinha pra forrozear como principal atração da festa no Centro Histórico.

A disposição de Daniela em estar mais presente neste clima junino – seu desejo de cair no samba, afinal, significa se entregar sem pudores à alegria e à emoção, não? – mantém equilibrada sua balança. Enquanto arrasta as sandálias para tentar ficar cada vez mais perto de seu público, a cantora e bailarina evita tirar o pé do chão quando o assunto é a sua própria postura na arte ou na vida. É o lado existencialista em ação. Aliás, rasgados elogios ao seu trabalho foram recentemente publicados pela escritora e crítica de arte norte-americana Camille Paglia em sua coluna no site salon.com (www.salon.com/opinion) para o mundo inteiro ler.

“Achei muito interessante a percepção que Camille teve da Bahia e de mim, e fiquei especialmente feliz com sua inteligência e sensibilidade quando ela valoriza a emoção, o improviso, a vitalidade apaixonada”, comenta a cantora. No equilíbrio de sua balança, vai mais além: “Sempre me intitulei pós-feminista. Nunca me vi como uma mulher frágil e incapaz de lutar pelos meus pontos de vista pessoais e profissionais. Nunca compactuei com mulheres que abdicam de seu poder”. E certa de que a emoção é o seu mais potente canal de comunicação com o mundo, ajusta os passos para a celebração junina.

O show de amanhã, do CD/DVD Balé mulato ao vivo, marca o reencontro de Daniela Mercury com o público baiano neste período do ano, depois de 13 anos longe por causa das turnês internacionais. A rodada brasileira começou no Ceará, nas cidades de Tauá e Santa Quitéria. Depois de Salvador, ela segue para Porto Seguro e Ilhéus. “Estou animadíssima, vou poder celebrar uma das festas que eu mais gosto que é o São João, de uma forma muito especial, cantando para as pessoas”, diz. No cenário do show, à base de pano de chita e repleto de referências à cultura popular, ela estará de braços abertos também para clássicos como Asa branca, Olha pro céu, Eu só quero um xodó e De onde vem o baião, além de outras “mais nordestinas” de seu repertório.

Amor pelo forró - Apaixonada por Luiz Gonzaga, “o grande mestre”, e pelas canções de Elba Ramalho, Dominguinhos, Amelinha, Zé Ramalho e Jackson do Pandeiro, Daniela Mercury declara seu amor pelo forró. “É um ritmo muito gostoso, com seus estilos variados, do pé-de-serra ao mais moderno, mas o que não pode faltar é o jeito gracioso, a dança com rosto coladinho”, pontua. Em seus discos, saborosos exemplos como Quem puder ser bom que seja, gravado com Gilberto Gil no álbum Sou de qualquer lugar, o baião Bate Couro, em Feijão com arroz, e o xote Toneladas de amor, em Balé mulato.

“Santana dos Olhos D’água, uma canção que fiz para a cidade de Feira de Santana, é um galope de São João maravilhoso, com um suingue delicioso”, destaca, citando mais um exemplo da lista. A idéia é que todas essas opções de repertório e os clássicos que elegeu funcionem como uma espécie de tempero para a justa adaptação de seu show para as festas juninas.

E para quem passou tanto tempo viajando, enquanto o forró por aqui corria solto, a hora é de matar as saudades. “Eu sempre curti muito o São João. Durante minha infância, lembro das festas organizadas na escola, das quadrilhas... Na adolescência eu viajava com os amigos para as cidades do interior da Bahia e em outros anos eu me apresentava nos palcos de várias cidades”. Bem-vindas também, como enumera Daniela, são as comidas típicas, as brincadeiras e a fogueira. “O São João é uma festa muito especial, que me emociona bastante”, arremata.

E ela quer chegar com tudo em um palco aberto para vários nomes de peso do gênero na programação deste ano do Pelourinho, como Alceu Valença, Trio Nordestino, Adelmário Coelho e Targino Gondim. Nesse clima junino, Daniela Mercury continua disposta a imprimir sua marca autoral em tudo que faz, ao mesmo tempo em que se deixa cada vez mais solta: “Numa luta contínua contra o meu próprio perfeccionismo, tenho improvisado mais, libertando-me da excessiva racionalidade”.

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FICHA

Show: Balé Mulato
Artista: Daniela Mercury
Onde: Terreiro de Jesus - Pelourinho
Quando: amanhã, às 21h
Ingresso: gratuito

Fonte: Correio da Bahia

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